sexta-feira, 25 de abril de 2008

MENSAGEM DE POSSE DO NOVO TESOUREIRO


As festas de Nossa Senhora do Rosário e São Sebastião de Jardim do Seridó-RN sempre estiveram presentes em minha vida, constituindo-se momentos de devoção e também de sociabilização. Desde a minha infância, estes rituais me pareciam familiar, afinal sou filho de família católica. Assim, com muitas outras crianças, acompanhadas de seus pais, em minha infância participei dos rituais de coroação de reis negros e me emocionava com os sons estridentes dos tambores de caixas a entoarem melodias tradicionais, principalmente quando tocadas no interior do templo católico, que em virtude de suas largas paredes, torna-se uma acústica que embalava o meu coração.
Como se muito de mim estivesse presente nestes festejos, me lancei no universo das festas dos Negros do Rosário, principalmente quando da minha entrada no curso de História no ano de 2002. O período da graduação foi passando e a idéia de desenvolver uma pesquisa sobre as festas dos Negros do Rosário foi sendo amadurecida a partir do diálogo com os professores, das leituras que fiz na experiência acadêmica e dos contatos que mantive com os próprios Negros do Rosário, que compartilharam comigo relatos de vidas e de festas.
Em contatos iniciais com alguns Negros do Rosário, sempre ficava transparecido que dentro do grupo existia alguns que ocupavam o lugar de “guardião da memória”. Estes são chamados de “os mais velhos”, pois são detentores de um conhecimento e um reconhecimento dentro do grupo, em virtude de suas longevidades. Tive a oportunidade de adentrar as residências de alguns “guardiões da memória”, como a casa do senhor Joaquim Dantas, “antigo Presidente da Irmandade”, o senhor Antônio Capitão, o senhor Amaral, Chefe da Boa Vista, e também a Senhora Dona Inácia “Caçote” e o Senhor Zé Vieira, a quem eu presto minha homenagem, pois “até morrer, eles souberam amar a Virgem do Rosário”.
Conversar com estas pessoas foi viajar a diferentes tempos, uma incursão pelos caminhos da memória. Foi vivenciar uma experiência de troca sem precedentes. Deles levo comigo mais do que simples depoimentos...
Destes contatos, surgiu à articulação de um projeto de pesquisa monográfica, concluída no ano de 2006, com a defesa de minha monografia intitulada Entre Estratégias e Táticas: enredos das festas dos Negros do Rosário em Jardim do Seridó-RN, rendendo-me o título de bacharel e licenciado em História, pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
No ano de 2007, recebi a visita do senhor Antônio José dos Santos- Chefe da Irmandade – relatando-me que o cargo de tesoureiro da Irmandade do Rosário ia ficar vacante com a saída do antigo tesoureiro e secretaria, nas pessoas do senhor Geraldo José de Lima - “Turco” – e Francisca Helena, respectivamente; fazendo-me o convite em me tornar tesoureiro desta congregação.
Tive a oportunidade de refletir acerca desta função de extrema importância para todos que formam a Irmandade do Rosário e São Sebastião. Aceitando o convite no mês de dezembro de 2007, fiquei como colaborador nas festividades passada, onde tive a grata satisfação de ter conseguido através da articulação nossa e do senhor José da Noite de Medeiros, a aquisição de um novo fardamento, patrocinado pela Fundação José Augusto e a Casa de Cultura Popular do Rio Grande do Norte.
Ao longo da história da Irmandade do Rosário, fundada em 1863, muitas coisas foram feitas, no sentido de manter viva esta manifestação da cultura e da religiosidade popular. Inúmeros foram aqueles que por esta congregação deixaram suas marcas. Quantos reis perpétuos, juízes, escrivãs, presidentes, chefes, já passaram por esta festa. A história nos mostra que nada é fixo, estável, imóvel, mas tudo se transforma, muda, passa. E nós, como continuadores desta tradição, temos inúmeros desafios a cumprir.
Devemos, pois darmos as mãos, Irmandade, Igreja e todas aquelas pessoas de boa vontade, no sentido de continuar fazendo desta festa e desta Irmandade uma tradição continuamente apropriada, praticada e vivida pelos Negros do Rosário, pois como me disse certa vez a senhora Dona Inácia (in-memoriam): “eu não quero que esta festa morra”.

Jardim do Seridó, 6 de março de 2008.
Diego Marinho de Gois, novo tesoureiro.

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