[...] eu entrei na Irmandade como pulante, depois fui lanceiro, depois fui bater bombo, de bombo passei para caixa, de caixa me escolheram para ser capitão, porque tudo na Irmandade eu resolvia, eu resolvia os problemas. Ludugero nesta época era o chefe, então ele antes de morrer passou o cargo para eu ser o Chefe da Irmandade, porque o Capitão da Irmandade era para comandar aquela turma na frente e resolver os problemas de cada um, de cada uma daquelas pessoas; por crianças, as pessoas, eu boto as pessoas, se caso não der certo, eu tiro; eu quem faço as apresentações das danças, eu crio as apresentações e faço. E de Chefe realmente é combater algumas coisas que é de ser da Irmandade (SANTOS, 2005).
Nesta narrativa podemos observar os cargos hierárquicos pelos quais um iniciante na Irmandade do Rosário deve passar até chegar à função de comandar o grupo. O senhor Antônio Capitão entrou como “pulante”, depois foi “lanceiro”, “batedor de caixa”, para finalmente ser “Capitão” e “Chefe da Irmandade”. Além dos lugares ocupados por ele na congregação de negros, a sua narrativa chama a atenção para a questão da construção da tradição e da sucessão. O fragmento “ele antes de morrer passou o cargo para eu ser Chefe”, denota a preocupação de ser uma prática legitimada por um sujeito “mais velho”, o senhor Ludugero, antigo Chefe da Irmandade, que transmitiu não somente o cargo, mas também o saber.