A primeira imagem de Nossa Senhora do Rosário chegou a Villa do Jardim, atual cidade de Jardim do Seridó-RN, por volta da segunda metade do século XIX. Nesta época, a Villa do Jardim, recém-instalada (1858), vivenciava um período de intensas transformações político-religiosas, advindas da criação da Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Azevedo (1856), da Emancipação Política e instalação do Município (1858-1859), da construção da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição (1860), dentre outras.
Com a inauguração da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, chegou para habitar em um dos altares laterais, a diminuta imagem de Nossa Senhora do Rosário, esculpida em madeira e de estilo barroco. O antropólogo Veríssimo de Melo conheceu esta imagem em 1963 e assim descreveu:
“Esta imagem, que fotografamos, é uma velha e expressiva peça de madeira, de meio metro, talvez, de altura, com as características das imagens portuguesas. A informação que circulava era de que a imagem tem mais de cem anos. A festa teria surgido depois da chegada da imagem a Jardim do Seridó” (MELO, 1964, p. 13).
Com base nas informações supracitadas, podemos concluir que, com a chegada da imagem, surgiu a devoção a Virgem do Rosário, cujo culto no Brasil é confiada, sobretudo, aos negros. Esta devoção foi transformada em Festa “em 1863 por Joaquim Antônio do Nascimento, tendo como primeiro batedor de caixa Luiz Joaquim de Santana, tambor-mor Marcelino da Boa Vista e capitão de lança Francisco do Logradouro” (REVISTA DA FESTA, 1978, p. 08).
Sobre a chegada da imagem de Nossa Senhora do Rosário a Villa do Jardim, atual cidade de Jardim do Seridó-RN, a história oral conservou diversas narrativas, que eram passadas de geração a geração, de pais para filhos. A senhora Inácia Maria da Conceição (in-memoriam), 90 anos de idade na época da entrevista, narrou que:
“Meus avôs falava que ela apareceu numa serra, aí foram buscar com músiga [música], chegava butava [sic], aí ela voltava pra traz, pra o mesmo lugar. Depois foram buscar as caixinhas, essas caixinhas, os tambor com seus espontões, aí foram buscar, aí trouxeram, ela ficou, aí ficou chamando ela de Nossa Senhora do Rosário; foram os negros que vieram, que foram buscar” (CONCEIÇÂO, 2005).
Esta imagem ficou exposta para a veneração dos fiéis em altar até a aquisição de uma nova imagem feita em gesso. Com a chegada da nova imagem da Virgem do Rosário, a primitiva peça ficou sobre a guarda dos Tesoureiros, que repassava para o seu sucessor. No entanto, devido a possibilidade de deteriorização e de furto, a antiga imagem foi recolhida novamente para a Igreja Matriz, ficando conservada na Pia Batismal, lugar mais seguro; só saindo em raríssimas ocasiões.
No ano de 2008, por ocasião da posse do novo Tesoureiro da Irmandade, a primitiva imagem foi utilizada no ritual de transmissão do cargo. O Chefe da Irmandade, o Senhor Antônio José dos Santos, representando o antigo Tesoureiro, entregou nas mãos do novo Tesoureiro a imagem de Nossa Senhora do Rosário, aos aplausos dos presentes.
Estas são, portanto, algumas informações sobre a antiga imagem de Nossa Senhora do Rosário, objeto de veneração por parte dos nossos antepassados, brancos ou negros, livres ou cativos, que viam nesta imagem, mais do que um simples objeto de devoção, um objeto sagrado que materializava a esperança de dias melhores, de alívio dos sofrimentos cotidianos, das injustiças sociais.
Em torno desta imagem foram congregados os mais diferentes sujeitos sociais, sendo vivenciado nos três dias em que duravam as Festas dos Negros do Rosário, um novo tempo, onde o sofrimento e a tristeza davam lugar a alegria e a felicidade. Por isto, não é de se estranhar que diversas promessas fossem realizadas sobre a interseção de Nossa Senhora do Rosário, promessas de “até morrer vos hei de sempre amar”.
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